quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E depois da greve?


Quarta-feira, dia 24 de Novembro foi notoriamente apelidada como a maior greve de que há registo!


O que à primeira vista, faria com que toda a gente dissesse: "Finalmente Portugal mudou e decidiu corrigir as suas falhas e tornar-se um país melhor!"


Contudo numa segunda abordagem e perante a realidade conseguimos dizer que houve greve, mas o que mudou depois da greve? Além dos trabalhadores dos diversos sectores terem protestado contra as suas condições de trabalho e toda a precaridade inerente à crise, resta muito pouco para colher de "frutos" de uma greve tão aparatosa. Sabemos que estes grevistas não eram uns grevistas quaisquer, estavam possuídos por um espírito de ser português num mau sentido, chorando e reclamando que a mama está quase seca a nível comunitário, que tudo o que viveram em décadas de governação tanto de esquerda como de direita não foram suficientes para garantir o futuro em diversos sectores chave, como a saúde e as pensões e reformas.


Contudo o que penso que nenhum líder sindical e todos os pró-greve pensaram foi: a nossa greve irá marcar uma posição e demonstrar ao governo a força do povo e a sua indignação perante a actualidade, MAS também vai custa milhões ao país que são suportados não pelo governo, mas por todos nós que têm uma capacidade contributiva por mais ínfima que seja, aposto que não tardará a ser agravada, a exigir-se mais um "aperto do cinto" e em prol de atingir metas comunitárias, subir quiçá um pouco mais os impostos, matéria que nunca foi tocada do 25 de Abril (ou então foi imensas vezes).


Então que expectativas têm as pessoas?


Eu penso que neste campo as pessoas limitam-se a expectar aquilo que o Estado se disponibilizar a dar e nada mais. A propósito disto, segue uma história engraçada, numa deslocação que fiz à Segurança Social para abrir actividade no qual tinha direito a uma isenção (olhem para mim importante, abrir a actividade para algo completamente inútil só por capricho de um empregador muito mau pagador), estavam inúmeras pessoas como era de esperar num serviço daquela natureza (coisa que eu nunca lá tinha posto os pés, mas ao que parece já é um ritual para muitas pessoas) ao que uma senhora inicia uma conversa dizendo que a vida está difícil, que a população se encontra grandemente envelhecida, acusando que os jovens emigram ou então ficam sem condições para terem filhos cedo, adiando a decisão para depois dos 30 ou algo parecido. Entretanto a conversa ia-se desenrolando perante uma menina aparentemente jovem que esperava igualmente na fila para entrar no serviço público, empurrando o carrinho do seu bebé, concordando plenamente com o discurso da senhora mais idosa. Eu como recatado sujeito que sou, não tugi nem mugi perante as barbaridades que estavam a ser proferidas, senão eis que então a audaz senhora idosa abre da sua boca, desafia as cordas vocais a traduzirem o que o cérebro não devia ousar pensar, saindo por fim um: "a culpa das pessoas não terem mais filhos é do Governo, porque não dá subsídios para as pessoas os fazerem!".

Decerto se compreenderá que fiquei parvo, atónito, perplexo, pálido e tudo que mais possa descrever o meu estado de choque e espanto por tal frase. Então não é que aquela senhora que aparentava merecer algum respeito, perdeu toda a credibilidade ao vomitar tais palavras, como se perfeito sentido fizessem na harmonia universal? Apeteceu-me francamente intervir, e até bater na senhora idosa que com aquela frase merecia um bom par de estalos naquela face enrugada para abrir os olhos para a realidade.

Obviamente me acalmei, respirando o mais calmamente quanto a situação me exigia e optei por não dar uma lição de cidadania e de responsabilidade em relação às nossas obrigações perante o país, dizendo que o Estado nada tem que subsidiar, muito menos para as pessoas andarem a fazer filhos, isso é um absurdo total e completo, a meu ver até merecedor de umas chicotadas valentes no traseiro das pessoas para perceberem a asneira que disseram (antigamente no tempo delas isto parecia resolver todos os problemas).


E depois vem gente que só pode ter o pensamento similar a esta história real fazer greves não é?


Pois se há coisas que me envergonho enquanto português é de partilhar o ar e o espaço com gente sem nível, educação, sensibilidade, responsabilidade, consciência global de que não estamos sozinhos no país e que as nossas acções tem sempre uma consequência. Há formas de protestar e de mostrar a nossa indignação perante o estado das coisas, que normalmente se reflectem em resultados eleitorais, em investimentos próprios na criação de emprego por acharmos que o sector público já não tem o seu ar irresistível para garantir um emprego para a vida, e que os 475 € ou lá quanto é aquela esmola para grande parte dos portugueses que trabalham imensas horas para ganharem perto de nada e mesmo assim têm de pagar casa, comida, contas, etc...


Acordem e vejam que há sempre alternativas, não é ficar à espera de subsídios nem de greves milagrosas. Quem leu os jornais hoje, já se deve ter apercebido que apesar da greve com 3 Milhões de Portugueses, o governo mantém-se irredutível e como tal fica tudo na mesma, porque a crise e a situação económica exigem que sacrifícios sejam feitos e como tal agora não é o tempo de chorar mas de arregaçar as mangas e trabalhar mais e melhor.


P.S. - Fazerem greve e bloquearem e impedirem quem quer trabalhar de chegar ao seu posto de trabalho ou de entrar nas instalações, faz-me pensar na ignorância e falta de respeito por quem pensa de forma diferente. Quem tentou ir trabalhar e não prejudicar mais o país, não teve nem autocarro, nem metro, nem acesso ao edifício do seu trabalho.


Viva a greve... ou não.

1 comentário:

Diuska disse...

bem dito mowe!! sabes que o que penso disto tudo, e nao são as greves as soluções n sao mesmo!!