Se hoje é um dia importante para mim, para ti só tem mais que motivos para o ser também.
Deixa-me falar hoje um pouco sobre ti.
Nunca tive propriamente os meios nem se calhar o momento mais apropriado para o fazer, só que este ano, algo está mais lúcido, está mais limpo e permeável a que coisas como estas, e momentos como este, se possam repetir.
Aquilo que tu irás ler em seguida não tem de ser nada de novo, provavelmente se não tinhas ouvido, já devias desconfiar. Trata-se numa primeira abordagem de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Deixa-me falar hoje um pouco sobre ti.
Nunca tive propriamente os meios nem se calhar o momento mais apropriado para o fazer, só que este ano, algo está mais lúcido, está mais limpo e permeável a que coisas como estas, e momentos como este, se possam repetir.
Aquilo que tu irás ler em seguida não tem de ser nada de novo, provavelmente se não tinhas ouvido, já devias desconfiar. Trata-se numa primeira abordagem de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Quem é o meu Pai podem-me perguntar… Que direi eu? Que foi quem me fez? Bem isso não é grande novidade, então no campo da biologia até roça o obviamente previsível, que é o meu encarregado de educação, talvez não tão óbvio mas também se chegava lá.
Mas quem é o meu Pai?
O meu pai é uma das melhores pessoas que tive o prazer de me cruzar na minha vida. Se há pessoas que falam do coração, e que quando falam a sério, olhos nos olhos, de homem para homem, de pai para filho, essa pessoa é o meu pai.
Como é que eu vi o meu Pai ao longo da minha vida?
Bem desde pequenino que sei que ele cuidou de mim. A minha primeira recordação do meu Pai desde que nasci, remonta aos meus 4 anos. O cassula era bem mais cassula do que agora… E nessa altura estava eu ao colo da minha Mãe, curioso, num pequeno espaço que com o tempo aprendi chamar-se Elevador! O meu irmão valente estava ansioso à frente de toda a gente para ser o primeiro a chegar à porta, e o meu Pai, estava com a sua típica postura, tranquilo e paciente, sem pressa e sem grande vontade que o apressassem, típico…
A porta abriu-se e o meu Pai num acto de chefe de família encaminhou-se para a porta do nosso Apartamento e abriu as portas do lar onde havíamos de ter tantos momentos felizes lá dentro. Foi naquele momento que num acto simbólico de abrir a porta para a nossa família, lançou 2 filhos para uma vida cheia de momentos especiais, e outros bem difíceis, gentileza e cortesia da vida que não poupa ninguém às suas amarguras e crescimento.
O meu Pai era quem dos meus Pais tinha todos os motivos e raízes de ser mais desprendido e alegre para a vida. Contudo, para o meu Pai antes da descontracção e da brincadeira há a responsabilidade e as obrigações a que a vida obriga. Se calhar, por ser assim também muitas coisas nos poupou de preocupações. Não tinha clareza nem idade para perceber as coisas com a densidade suficiente em certas alturas.
Noutras alturas, era do entendimento da nossa casa, que os meninos não tinham de se preocupar com nada dos crescidos, afinal mais uma vez, estavam as asas de galinha e galo bem presentes para que a equipa imbatível que os meus Pais fazem continuasse invicta para dar aos seus filhos tudo aquilo que desejavam e bem mais do que tiveram na sua altura. Nesse aspecto acho que há motivos para celebrar. E se celebramos…
Em Maio de 2009, foi uma altura extremamente especial na minha vida. Quem estava lá a meu lado a viver de perto esse momento? O meu Pai!
E dizes tu que já vão 51 anos? O “Chalana” dos campos de futebol, o desportista invicto e talentoso… Pai és mesmo tu que as camisas não favorecem? Que estão sempre meias para fora e dão umas curvinhas típicas da idade?
Quem esteve contigo naquela altura em Maio, num dia inesquecível em que o Finalista do Curso de Direito reuniu alguma família e teve a oportunidade de partilhar com eles a sua enorme alegria de terminar uma fase da sua vida. Pai estiveste lá… Pai não me esqueço dos teus olhos quando me viste a sair do prédio, trajado, ansioso, entusiasmado por te ter lá, nervoso por partilhar contigo uma parte importante da minha vida, da minha academia, da tradição académica, de te dar mais um motivo para sorrir e sair de queixo levantado à rua, de te dar mais uma alegria em agradecimento por todo o teu esforço por me dares as condições para terminar algo fundamental para a minha vida. Fomos almoçar… Foi óptimo comeste onde nunca tinhas comido, (espero que a experiência no Chinês não tenha sido traumatizante) e no final do almoço, brindamos. Eu e tu, e o resto da família. Mas eu e tu, tínhamos uma sintonia diferente. Não era apenas mais um dia, não estávamos confortáveis nem em paz cá dentro… O meu coração estava tão acelerado… o teu não? A minha visão extremamente turva… não que tivesse bebido, mas porque as lágrimas me ofuscavam a vista. Trocamos um abraço convicto e forte, que durou algum tempo, mas ali Pai… pareceu que toda a minha vida contigo me passou diante dos olhos… ouvi palavras generosas e do coração como só nestes momentos tu és capaz de te deixar ir. Pena que não venham mais vezes ter a este lado, mais derretido não poderia ficar do que ouvir o meu Pai a dizer tais coisas.
Depois do que me disseste, que não vou esquecer por muitos anos que viva, depois de a minha garganta ter secado e não conseguir falar para as lágrimas não me caírem compulsivamente pela cara abaixo tal como o mesmo acontecia contigo. Creio que por muito que na vida caiam na tentação de nos comparar, os pais e os filhos, sei que de uma forma ou de outra, tenho muito a ver contigo, mesmo nos momentos que mais fechado estavas em ti mesmo, continuava a olhar-te com respeito e fascínio, confesso na altura da minha meninice também algum medo, mas acho que a educação que levei teve coisas boas e outras menos boas que para uma criança não teriam sido as mais fáceis de perceber. Principalmente porque quando era mais menino não sabia chegar a ti, não reagias, não falavas com a espontaneidade e a alegria com que eu falava. Não temos de ser todos iguais, mas nisso vejo que hoje estás diferente. Será que foi porque cresci e sentiste que tinhas sido bem sucedido na missão de me educar? Acho que isto é algo que terei de te perguntar para saber o que pensas. Se calhar com a idade vejo-me em certas alturas a recuar ao meu passado e procurar certas explicações e também conhecer o porquê de fazer algo ou dizeres uma coisa. Por vezes serve-me como grandes conselhos de vida, por outros apenas foram instantes que quereria que estivesses tão no alto como te tenho hoje em dia.
Acho que ninguém tem sempre grandes dias, e tinhas direito também aos teus. Em 51 anos também se não tivesses nenhum era sinal que a vida não te tinha mostrado como eram as coisas na realidade, e sempre gostei de ter um Pai com os pés bem assentes na terra.
Hoje que te escrevo este texto, que certamente sei que não estarias a contar, e por isso terá bem mais valor do que uma carta que tenhas recebido, aqui neste cantinho que quase ninguém conhece, posso dar-te um ar da minha graça, da nossa graça.
Continuas a ser alguém que encho o peito e de quem tenho um respeito muito grande, mas ainda tive um bónus, sinto-me bem mais perto de ti.
Sei que sempre disseram que Mãe é Mãe, mas Pai também é Pai! Não há mais nenhum, apenas ele me viu e me conhece em certos aspectos que mais ninguém pode saber. Quem me deu banho? Quem me levou ao hospital e cuidou de mim quando estava mesmo mal? Quem percebe o mal estar de um filho e sofre como ele sofre como um Pai? Quem aspira sempre mais de um filho e quer mais e melhor do que ele próprio teve? Quem não sente a pressão da sociedade de se poder intitular de um Grande Pai se não lutar dia após dia para que o seu filho tenha tudo a que ele considera ter direito? Quem esteve comigo nas alturas mais complicadas nos dias prestes a acabar o curso, e me levou de rajada e a toda a velocidade a Lisboa para me inscrever na Ordem dos Advogados? Quem nos meus tempos de menino com 10/11 anos se vestia bem agasalhado para pôr o Datsun a trabalhar para eu conseguir ir às aulas quando o Inverno rigoroso de Vila Real impedia muita gente de sair de casa? Nunca nos falhou o sacana… Quem me ensinou a jogar voleibol de praia? Quem fazia desenhos de precisão nas aulas de EDV quando o seu filho estava demasiado cansado para os fazer? Quem se fartava de ouvir o seu filho horas e horas a fio a tocar flauta? Bendito Alecrim e Pombinhas da Catrina!
Pois é Pai, tantas coisas que fizeste e ainda fazes… Sabes uma vez disse-te que apesar de eu saber o que pensas de mim, eu gosto de ouvir e que mo digas várias vezes. Não há nada como ouvir o nosso Pai a dizer o quanto gosta de nós ou o quanto se orgulha do que fazemos na vida. Viver à altura do que o nosso Pai considera ser bom dá uma energia e um alento que ninguém no mundo derruba.
Pai… Obrigado e agora o mais importante…
PARABÉNS!!!
1 comentário:
Parabéns Sr. Correia :D
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