Ser ou não ser Advogado
Eis a questão...
Aqui está uma questão que levou mais de 60% dos Advogados Estagiários a ponderar certamente a sua vida na nobre carreira de Advogado. Não é um percurso fácil, nem tão pouco dignificado pelas provações que temos de suportar para lá chegar.
Inúmeros são os exemplos de estagiários que sofrem abusos, que lhes são pedidas tarefas nada a ver com aquilo com que estudarem nem tão pouco na sua área profissional, facto que levou muitos a abdicarem de um nome pomposo ou da alcunha de "Doutor", para abraçarem outros amores e outras paixões dentro das várias áreas profissionais possíveis.
Quanto me alegra (not) ver o Bastonário da Ordem dos Advogados, capaz de culpar o ensino universitário pelos péssimos resultados. Aquele bom hábito português de culpar quem veio antes como o único responsável pelos males a expiar nos estagiários, a sério que é possível que alguém acredite nisto?
Senão vejamos o que têm em comum estes 60% (à volta disso) de advogados estagiários:
- Concluíram a Licenciatura (Pré ou Pós-Bolonha);
- Inscreveram-se na Ordem dos Advogados para realizarem um Estágio;
- Realizaram com sucesso diversos exames no fim da 1ª Fase de Estágio na Ordem dos Advogados;
- Decorreram em média entre 2 anos e meio a 3 anos de experiência profissional nas mais diversas áreas do Direito, e na interacção com profissionais, instituições, solucionando uma complexa rede de processos que lhes foram confiados, ou no qual foram comparticipada a sua participação;
- Adquiriram-se conhecimentos que no final de tão extenso período deviam ser mais que suficientes para realizar uma prova de 2ª Fase de Estágio na Ordem dos Advogados;
Contudo, assim não aconteceu e o mesmo deve-se segundo a opinião do Bastonário da Ordem dos Advogados ao Ensino Superior... Mas não foi esse mesmo Ensino Superior que os levou a percorrer vários exames e a chegar à recta final para se tornarem Advogados de pleno direito?
O que se depreenderá deste raciocínio, na premissa do Bastonário, é que o Ensino Superior apenas se consegue equiparar ao nível da 1ª Fase de Estágio na Ordem dos Advogados?
Isto não faz nenhum sentido... pois não?
Então porque razão andamos a tratar centenas de candidatos a Advogados de pleno direito como idiotas, atirando areia para os olhos de tanta gente como se não se percebesse o que de facto se passa?
Na verdade, através destas insinuações e acusações vãs sobre o Ensino Superior (uniformizado em toda a União Europeia pelo Tratado de Bolonha, agilizando e habilitando mais cedo pessoas para o mercado de trabalho), em que Portugal não consegue ter a qualidade necessária para uma Ordem dos Advogados que excede de longe uma Ordem Alemã ou Francesa (lol).
Haja decência e seriedade pelo menos a abordar o assunto, caso contrário entramos no jogo de quem pratica o maior sarcasmo e humor degradante sobre uma realidade chocante.
Aprenda-se e reconheça-se que o passo a dar em jeito de uniformização e estabilização, não passa por inventar ardis para barrar os estagiários à profissão, mas por reconhecer que o Ensino Superior, pode colaborar com a Ordem dos Advogados, dentro dos quatro anos estipulados na uniformização Comunitária e mesmo assim não perder eficácia junto dos seus aspirantes a Advogados.