Vai um café para acompanhar o raciocínio?
Se sim, sirvam-se.
O que se segue foi apenas um pensamento que acabou por tornar-se complexo e pela complexidade, outras questões me assombraram a mente e com isso, o meu sono está contado.
Eis o que impediu o meu cérebro de descansar: Podemos verdadeiramente avaliar o mérito de alguém?
O mérito que me refiro é aquele que de mais geral existe. Para se criar uma forma de o quantificar, qualificar, medir, recorreu-se a todas as teorias explicativas que poderiam fazer realçar uma determinada característica de alguém no desempenho de uma função.
Tomemos por assalto a hipótese de um cidadão vulgar, médio e razoável. Este sujeito, honra os seus compromissos da vida vespertina, e através disso dir-se-ia que está a fazer o trabalho esperado para o lugar que ocupa. Mas imaginemos também que além do esperado no dia-a-dia, esse cidadão ainda recorre à sua maneira de ser para ajudar quem pode dentro das suas limitadas possibilidades, isto em si é o que se diria de óptimo exemplo e realmente invejável para quem tem bem mais que ele e nada ou muito menos fará comparativamente com o sujeito mediano.
Agora imaginemos que essa pessoa recebe uma grande quantia de dinheiro. O que se esperaria que ela fizesse?
A resposta mais óbvia seria dizer que a pessoa iria ajudar mais pessoas ainda o que seria óptimo para todos certo?
Pois é aí que está o cerne da questão. As pessoas nem sempre se comportam da maneira esperada. Uma coisa é deixar as pessoas no seu meio normal e habitual, onde as expectativas são fazer o melhor possível com o que se tem. No entanto, quando se tem muito o paradigma parece mudar, se não sempre, pelo menos na maioria dos casos. Devido ao factor que está em questão ser muito mais abundante, a pessoa naturalmente irá pensar que quando se têm pouco, ajudar não custa, onde come uma pessoa, certamente comerão duas, no entanto, quando se tem muito, onde comem cinco ou seis, será mais difícil transportar o mesmo raciocínio para imaginemos um milhão de pessoas.
Então o novo paradigma está relacionado com o facto desse ex-sujeito exemplar, actualmente apenas ajudar em comparação, uma pequena quantidade de pessoas daquelas que potencialmente teria capacidade para ajudar. O que dizer desta pessoa? Faz o que pode? Faz o que quer? Faríamos nós mais por mais gente? Não estaremos a maioria no mesmo patamar de quem acabou de "ter sorte", no entanto, sonhamos com isso e projectamos essa possibilidade, mais facilmente condenamos o "sortudo" do que tentamos por-nos no seu lugar.
Daí que verdadeiramente pode ou não a pessoa que sempre ajudou o próximo e que continua a fazê-lo, virar-se para si própria, cuidar/mimar tudo o que é seu, que sempre foi, tratar o seu espírito, o seu corpo e a sua essência, dar um tempo a si mesmo, viver para si também, dentro das suas novas possibilidades. Isso não significa que a pessoa seja entendida, mas facilmente não se é entendido se pensarem bem nisso, basta saírem do padrão e serão alvos de olhares julgadores ou de considerações e comentários, sempre o foram toda a vida. Não era neste momento que algo seria diferente.
Os objectivos mudam, e as fasquias alteram-se mas aquilo que as pessoas são ou podem vir a ser, será sempre alvo de censura (sussurrada ou não).
É uma teoria sem solução à vista, pois cada um terá a sua opinião. Aqui vai a minha: Todos para o diabo que os carregue. Vivam a vida, ajudem as pessoas que puderem e que não tiveram a mesma sorte. E caso isso não suceda... Bem a Natureza tratará disso, como sempre o fez desde os primórdios.